A VELHICE PÓS-ADOLESCÊNCIA

Quando a gente está na escola, mal vê a hora daquilo tudo acabar. Principalmente quando se tem uma prova de Geografia, uma de Química e outra de Física no mesmo dia. “Quero ser adulto de uma vez” é o pensamento mais recorrente dos adolescentes incomodados.

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Incrível, mas eu lembro como se fosse ontem. Eu estava com a minha mãe e minha irmã mais velha comprando roupas. Pra elas, é claro. Nada poderia ser mais chato do que aquela situação. Eu tinha uns sete ou oito anos de idade. Tudo o que passava pela minha cabeça era “quero ter treze anos!”. Até hoje eu não sei o que eu imaginava de tão especial que pudesse circundar essa idade. Será que era intuição? (Se você ainda não leu o texto que pode comprovar essa teoria, leia aqui.) Será que eu tinha a dimensão do quanto aquela fase seria especial e cheia de coisas maravilhosas? Talvez sim. Mas o mais engraçado era que alguns anos depois do fatídico dia de compras, eu lembrei do tal episódio. E, mais engraçado ainda, eu ainda não havia completado treze anos! Quando a gente é criança, o tempo demora a passar. Hoje eu tenho três vezes a idade que eu tinha quando quis ser grande pela primeira vez.

Se você está passando por essa situação, não desanime, ela vai passar. E também não se assuste: ela vai piorar. Se a adolescência vai dos treze aos dezenove anos de idade, há cinco anos eu me encontro em uma profunda “crise de velhice”. Ser adulto é um saco. Mas nem todo o tempo. O primeiro ano de faculdade é algo indescritível. É uma escola muuuito maior do que a que você está acostumado. Gente diferente, gente bonita, gente feia. Tudo parece mais divertido, inclusive boa parte dos professores. Você começa a perceber que algumas coisas que você julgava inúteis na época da escola continuam inúteis na faculdade.

Você consegue fazer amigos facilmente, o riso rola solto. E você, eventualmente, irá se apaixonar. E se sentirá adolescente novamente. Aí você, possivelmente, irá se desiludir e tentará ocupar a cabeça com outras coisas. Então você começará a trabalhar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa. Menos algo que tenha a ver com o que você estará cursando na faculdade.

É provável que você sofrerá outra desilusão. Mas dessa vez será com a carreira que você escolheu seguir. Muita gente escolhe o curso não muito tempo antes de se inscrever para o vestibular. Será que é mesmo, aos dezessete anos, a idade com a qual você deve decidir boa parte do seu futuro? Muita gente acha que sabe, desde pequeno, o que quer fazer da vida. E chega na metade do curso, desiste. A gente entra na faculdade achando que vai mudar o mundo, revolucionar na sua área. Quando se descobre que a vida real é bem diferente da teoria proposta no curso, a frustração manda um alô. Antes de você pensar que eu estou tendo uma visão negativa sobre esse assunto, digo que eu, antes dos vinte e três anos, já havia começado três cursos diferentes na faculdade e nem sequer cheguei perto de me formar. Os amigos que fiz durante o período em que estive nesses cursos, esses sim, já se formaram ou estão se preparando para se formar na graduação. No começo, entrei em parafuso por causa disso. Achei que eu estava perdendo tempo demais da minha vida. Como assim, depois de tantos anos, eu ainda não estava estabilizada na vida? Pois é, meu amigo. Entrei em crise, saí da crise. Entrei de novo, saí de novo e assim vai ser por um bom tempo. Com todo mundo. Embora eu espere que não.

Essa semana, um grande amigo meu compartilhou no Facebook um pensamento do comediante Ricky Gervais, que dizia algo como: “Consegui um trabalho decente aos vinte e oito anos. Desisti dele para tentar a comédia, aos trinta e oito. Decidi ficar em forma e saudável aos quarenta e oito. Nunca é tarde demais. Mas faça agora. Tenha um bom dia.” Isso, definitivamente, me fez sair novamente da crise existencial chamada “tô velha”. Me fez pensar que todas aquelas coisas que me perturbam não são exclusividade minha. A diferença está na maneira com a qual você escolhe lidar com aquela situação. Mesmo que eu dê a maior força a todos à minha volta, eu sempre fui muito negativa. Mas estou trabalhando nisso porque, apesar de tudo, sou muito sonhadora. Sonho acordada, meio idiota, que nem ovelha no pasto. Deu pra visualizar a cara da ovelha? Bem, é por aí mesmo.

As coisas mais legais e surpreendentes da vida chegam nas horas inesperadas e nem sempre chegam cedo. Posso dar um bom exemplo. Quando eu era mais nova (tipo doze anos de idade, mais ou menos, até eu terminar o segundo grau), eu tinha várias amigas da escola que dançavam ballet, jazz, essas coisas. Eu achava lindo e sempre ia assistir quando elas se apresentavam. Sempre gostei de dançar, mas nunca me passou pela cabeça o motivo de eu nunca ter tido aulas de dança. Claro, houve uma fase da minha infância/adolescência em que meus pais estavam bem mal de grana, mas quando eles podiam me dar isso, eu nunca pedi. Tá certo que pais com tempo de levar e buscar um filho na aula de dança é algo bem difícil, mas mesmo assim, nunca senti falta. De verdade.

A dona da maior e mais conceituada escola de dança da cidade é sogra da minha irmã. Um dia, ela foi assistir uma apresentação de teatro da nossa turma da escola. Eu e mais algumas meninas dançávamos uma coreografia de tango sem par. Eu, amante do teatro que sou, coloquei toda a alma e coração no que estava fazendo. No fim da apresentação, a dona da escola veio falar comigo e disse que queria que eu fosse dançar na escola dela, pois ela tinha gostado muito da nossa apresentação. Era agosto, no dia do meu aniversário, por sinal. Eu disse que iria pensar no assunto e adiei, óbvio. Aquilo seria algo novo e muito diferente para mim. Bateu um medinho. No início no ano seguinte, não tive escapatória: comecei a frequentar as aulas de jazz. E me apaixonei! Faço isso até hoje e até ganho dinheiro dançando em alguns espetáculos. Aprendi várias outras coisas, como acrobacias aéreas e um pouco de sapateado, que eu nunca imaginei que um dia conseguiria. Quem diria, no auge dos meus dezoito anos, eu começar algo que normalmente vemos crianças de quatro anos de idade fazendo?

Por isso digo: não há nada que não se possa fazer. Por mais clichê que possa parecer dizer isso, é a mais pura verdade. Nunca é tarde demais para começar a fazer alguma coisa para nós mesmos. Seja dançar, tocar um instrumento, aprender um novo idioma, mudar de emprego ou de país. Cada novo começo é um friozinho na barriga. É como começar a namorar. Você espera pelo próximo dia como espera por uma ligação ou mensagem daquela pessoa que você gosta, perguntando como você está e te convidando para um programa legal.

Por mais que a gente acabe entrando em crise de vez em quando, só posso dizer uma coisa: como é bom recomeçar!

PLAYLIST DO POST:

Triple Trouble – Beastie Boys

Do I Look Worried  – Tedeschi Trucks

Satellite – Peter Conway

Time – Hootie & The Blowfish

Before It’s Too Late – Goo Goo Dolls

Little Black Dress – Sara Bareilles

Settle Down – No Doubt

Rocket Man – Elton John

Ou ouça tudo junto no Grooveshark.

2 thoughts on “A VELHICE PÓS-ADOLESCÊNCIA

  1. To stalkeando o blog… ahaha
    Esse texto é incrível, me ajudou muito !
    Toda vez que eu me sentir um pouco perdida vou ler ele.
    Dani quantos anos vc tem?

    1. Oi Darah!
      Que bom que tu tá lendo os textos do blog, fico muito muito feliz!
      Qualquer coisa que precisar, é só entrar em contato comigo, ok?
      Eu tenho 24 anos. Faço 25 em agosto :)
      Beijocas

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