Amigo… da onça!

Pense em uma pessoa da qual você não gosta muito. Ou que você não gosta mais. Agora pense no motivo pelo qual essa pessoa nutre um sentimento desagradável dentro de você. Foi alguma coisa que ela fez? Desculpa reavivar esse tipo de memória dentro de você, mas precisamos falar sobre isso.

 

Antes de mais nada, aqui está um vídeo do nosso canal falando sobre os tipos de pessoas tóxicas.

 

Ah, se você gostou do vídeo, lá no canal (https://www.youtube.com/HisteriaColetiva)  tem muuuito mais. Os temas abordados são um tanto diferentes do que você vê aqui no blog. Mas, se você quiser acompanhar o canal também, é só clicar no botão abaixo:

 

Esses dias eu me peguei pensando sobre como todos nós temos uma quantidade relevante de desafetos. Às vezes a gente encontra uma pessoa desconhecida pela primeira vez na vida e simplesmente “o seu santo não bate com o dela”. Daí a gente pensa que foi uma implicância gratuita de nossa parte e, quando a gente conhece a pessoa melhor… a gente se dá conta estávamos certos em não gostar. Eu não sei se é algum lance de energia, que a nossa é diferente da energia da pessoa, se é coisa de vidas passadas, cada um tem sua própria teoria.

Mas há aqueles casos em que a pessoa se tornou um desafeto por algum motivo concreto. Diferentemente das pessoas com quem “o santo não bate” (em que basta simplesmente ignorar a existência da pessoa), quando as coisas acontecem por um motivo concreto, tudo se torna mais difícil. É porque machuca. Só que a tendência é a de nós, seres humanos, transformarmos a dor em raiva e outros sentimentos igualmente ruins ou piores.

Digamos que algo de muito ruim tenha acontecido entre você e seu melhor amigo. Algo que faz com que a expressão “desculpe” tenha a mesma função que a palavra “paralelepípedo” em uma receita de bolo de chocolate. A primeira fase é aquela em que você custa a acreditar que aquilo realmente aconteceu. Por longos períodos de tempo, você fixa os olhos no nada, como se a sua cabeça estivesse vazia, quando na verdade zilhões de pensamentos passam pela sua mente e nenhum se fixa pra que você consiga entender alguma coisa. É como se você estivesse lendo um texto e todas as frases parassem na metade.

Quando a poeira dá uma baixada e os seus pensamentos voltam a surgir de forma ordenada, você começa a se perguntar por que aquilo aconteceu, por que aquele seu grande amigo teve a capacidade de fazer o que fez com você. Pode ter certeza de que as suas respostas não virão nesse momento. Quando o baque é muito grande, você acaba caindo no choro, como uma criança que espetou o dedo numa roseira quando a sua intenção era de apenas colher flores. Inevitavelmente, você vai tentar se colocar no lugar do seu amigo para tentar ver as coisas sob a perspectiva dele.

Na maioria das vezes, as pessoas passam anos da vida delas acreditando que conhecem bem os seus amigos, tão bem quanto conhecem a si mesmos. E, quando menos se espera, o inimaginável acontece. Inimaginável porque você não quer imaginar e nem quer cogitar que o seu amigo não é tão amigo assim. O que acontece é que a gente idealiza demais as pessoas do nosso convívio. A gente cria uma imagem delas e acha que as conhece. Além disso, cria expectativas e acha que elas só vão agir com a gente da mesma forma que agimos com elas.

Até um certo ponto, pode até ser que seja assim. Tudo muda quando chegam os interesses. Talvez o seu “amigo” queira uma coisa que você também quer. Aí ele vai fazer de tudo para que você não chegue lá. Talvez o seu amigo queira alguma coisa – ou “alguém” – que você tem. E ele não vai se conformar que certas coisas ninguém consegue tirar da gente. São aquelas coisas que fazem parte de quem somos. O nosso estilo de viver a vida, o nosso humor, a nossa originalidade e todas as outras pecinhas que compõem a nossa personalidade e nos fazem ser quem somos. Talvez tudo aquilo que o seu “amigo” quer é ser quem você é. E talvez ele não faça por mal. Talvez ele não tenha tido a estrutura e a convivência que você tem com a sua família. Talvez o forte dele seja matemática e uma memória absurda pra lembrar de inúmeros fatos históricos. Mas talvez tudo o que ele queira seja o seu desprendimento, a sua criatividade e a maneira com a qual você leva a vida. Talvez.

Passado aquele tempo (que eu disse que aconteceria), você começa a enxergar as respostas que tanto procurava. Você começa a ligar os pontos e se dá conta de quem o seu “amigo” realmente era e o que ele realmente queria. O pior de tudo é quando as outras pessoas do convívio de vocês reforçam esse tipo de atitude no seu amigo. Porque elas também têm lá suas fraquezas e limitações e não conseguem ver tudo com clareza justamente porque elas não são as pessoas diretamente afetadas. Aliás, na maioria das vezes, elas nem vão se envolver. Não vão te ajudar porque simplesmente elas não vão querer se indispor com seu “amigo” (que também é amigo delas).

O erro do seu “amigo” é encarar você como se você fosse uma ameaça. Aliás, vocês não eram melhores amigos? Que clima de competição, de guerra de um lado só é esse? É que o grande problema desse seu amigo é que ele acha que a felicidade é uma festa lotada: só entra uma pessoa se outra sair. Então, para ele encontrar a própria felicidade, alguém tem de estar infeliz. Para que ele possa ter algo que você também tem, você precisa deixar de ter. E assim ele leva a vida, buscando os próprios interesses sem olhar para os lados. Seria ele um egoísta, um infantil, um “sem noção” ou tudo ao mesmo tempo?

Mas não se preocupe, a vida se encarrega que ele amadureça. Afinal de contas, pessoas estranhas não serão tão boazinhas como você foi para ele. Aí ele vai perceber que o mundo e a vida vão muito além do convívio de um grupo, das paredes de uma escola, de um ambiente de trabalho, dos limites de uma cidade pequena.

É claro que as coisas dificilmente voltam a ser como elas eram. Conforme as pessoas vão crescendo, elas vão formando o seu caráter e seus próprios valores. E é por isso que a maioria das brigas homéricas acontecem durante a adolescência e na transição para a vida adulta. É que as diferenças vão ficando cada vez mais latentes e chega uma hora em que não dá mais para evitar um rompimento. Aí, depois de todo um entendimento, depois de perceber que as pessoas têm suas próprias limitações e que às vezes tudo o que elas precisam é de um pouco de ajuda, que sentimento ruim é esse que continuamos carregando no peito?

Esse sentimento ruim, essa mágoa, é apenas a nossa vontade de que as coisas fossem diferentes. Que o seu amigo fosse aquele herói e mais tudo aquilo que você idealizou. Mas as pessoas não são perfeitas e nem você é, e acho que disso você sabe muito bem, não preciso atirar nada na sua cara. Às vezes, tudo o que você precisa saber é se o que o seu amigo fez é digno de revolta ou simplesmente de pena. Parando para pensar, você vai perceber que é a segunda opção. Tenha seu próprio tempo e não se culpe por ter acreditado em algo que não era a realidade. Aí você vai decidir se você já tem condições de perdoar ou não. Acima de qualquer coisa, a primeira pessoa que você precisa perdoar é você mesmo.