O BIQUÍNI LIBERTADOR

Quando o calorzinho começa a aparecer com a chegada do verão, inúmeras fotos de praia e pessoas em trajes de banho começam a pipocar nas redes sociais. Nos vários meses que antecedem essa época já dá pra ver meninas recusando sobremesa e desviando o olhar das guloseimas na padaria. O motivo? Algo intitulado como “Projeto Verão”, que podemos classificar como fazer-sacrifício-pra-perder-uns-quilos-que-ninguém-repara.

No verão passado, em meio a tantas fotos de céu azul e areia fofa, vejo uma foto de biquíni de uma menina fora dos padrões de beleza da sociedade atual. Algumas pessoas torceram o nariz e vieram os comentários do tipo “Onde já se viu? Essa guria não tem vergonha, não?”. Pois eu achei a atitude dela muito legal por dois motivos: Primeiro, porque já está na hora de haver uma quebra de paradigmas e convenções sociais sem cabimento. Se uns e outros postam fotos em trajes de banho, esse direito serve para todos, sem restrições. Quem disse que as pessoas fora do tamanho 36-38 não podem usar um biquíni? Se eles são fabricados de todos os tamanhos, eles devem ser usados. E segundo, se a pessoa postou uma foto em trajes menores significa que ela está de bem com o próprio corpo, que ela se aceita e se gosta assim. Esse é o melhor motivo de todos!

Aí você vai dizer: “Tá, Dani, fala sério. Se é assim, por que tu nunca posta foto de biquíni?”. Vou te dizer, por dois motivos: Primeiro, porque, ao contrário da menina que eu mencionei anteriormente, eu não me sinto à vontade usando biquíni e, mesmo estando dentro dos padrões estéticos “exigidos” atualmente, vivo brigando com o espelho. Pode parecer ridículo, mas às vezes eu olho pro meu reflexo e choro de raiva por não ser exatamente como a minha cabeça maluca sonhava que eu fosse. Queria muito ter a confiança que ela tem, te juro. E segundo, porque normalmente a gente posta coisas que a gente quer que as pessoas saibam e vejam também. E meu corpitcho, em trajes de banho, não é uma delas. E sabe por quê? Porque eu não tenho “colhões” pra aceitar que eu sou igual a todo mundo. Uma pena.

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Cena do filme “Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Blvd.) de 1950. —> Vale a pena! <—

Essa semana eu li a matéria na página na web do caderno Donna, do Jornal ZH, sobre biquíni, dando destaque à história de Vanessa Braga, a menina do município de Canguçu que gerou polêmica ao se inscrever para o concurso Garota Verão tendo 1,61m de altura e pesando 70kg. Esse fato veio como um sopro de coragem para todas as meninas e mulheres que se escondem por terem vergonha do corpo. Veio como um palito de fósforo aceso, pronto para ser o estopim da guerra. Guerra contra essa pressão sobre nossos corpos, nossos gostos, nosso estilo, nosso comportamento. Isso não diz respeito somente ao fato de uma pessoa acima do peso “ideal” não querer ser vista de biquíni em praias muito movimentadas. É uma questão de auto-estima que vem sendo, há muito tempo, dilacerada por uma sociedade que faz questão de “separar o joio do trigo”. É uma questão de falta de oportunidades, de falta de reconhecimento das habilidades, falta de respeito com os outros indivíduos. É um cenário que precisa ser mudado. E me enche os olhos dizer que isso está começando por meninas como Vanessa, de APENAS 14 ANOS.

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Há quem diga que isso é o preconceito com quem é diferente. Diferente? Dá uma olhadinha nas nossas praias então. Meninas com barriga negativa e sem celulite é o que menos se vê, e as pessoas ainda têm a coragem de discriminar quem tá “fora do padrão”. Já acho um preconceito as pessoas classificarem as roupas com tamanho maior como “Plus Size”. Poxa vida, qual é o problema em estender a grade de tamanhos? Podem dizer que eu estou reclamando e defendendo uma causa que não é minha, já que eu nunca consegui chegar aos 50kg pra poder doar sangue.

Mas o meu caso é outro, que não é alvo de tanto preconceito mas que também incomoda. Nas 99% das vezes que eu tento comprar sapato é um problema. Algumas empresas têm a cara de pau de começar a numeração adulta no tamanho 34 ou 35. E eu calço 33 com muito esforço. Quando acho algum sapato que eu gosto, preciso encher as laterais e a parte de trás com E.V.A, algodão e outras coisas pra poder caminhar com o dito cujo. Esses dias eu achei o meu caderno da primeira série do Ensino Fundamental. A pergunta era: “O que você quer ser quando crescer?”. Logo abaixo, escrevi que queria ser desenhista, pintora, cantora, bailarina, atriz e modelo. De certa forma, eu posso ter qualquer uma dessas profissões, MENOS A ÚLTIMA. E por quê? Simplesmente porque eu meço 1,52m e só poderia fazer propaganda de roupa infantil! Minha grande frustração juvenil foi chegar na puberdade e saber que eu não cresceria mais um milímetro sequer. A maioria das roupas que eu vejo nas vitrines das lojas não ficam bem em mim porque caem melhor em pessoas altas. Definitivamente, as roupas não são feitas pensando em nós, baixinhas. Mas temos nossas representantes também. Um exemplo de mulher baixinha que faz e acontece no mundo da moda é Miroslava Duma, ex-editora chefe da edição russa da revista Harper’s Bazaar e dona do blog Büro 24/7.

miroslava-duma[1]

Vocês podem até achar que eu estou reclamando de barriga cheia, e pode até ser, se compararmos a tantos outros problemas por aí. O que me incomoda mais é essa tentativa incansável de padronizar uma sociedade inteira. Nós não somos uma massa homogênea! Nós não somos meio-termo! Um viva à diversidade! Que nós possamos ter roupas de todos os tamanhos, sapatos de todas as numerações e, principalmente, que possamos ter um coração em que caiba gente de tudo quando é jeito e que saiba aceitar o outro como ele é. Que possamos olhar no espelho de manhã e nos desejarmos um ótimo dia. Que possamos ler revistas sem ficarmos insatisfeitos com nossos corpos. Que consigamos ter a habilidade de olhar pra dentro antes de olhar por fora.

O que fazer? Se conformar? Negativo! Comporte-se com toda a atitude que vier daí de dentro. Vista-se como quiser, escolha as roupas que te farão sentir bonita, mesmo que isso implique em você recorrer à costureira para fazer alguns ajustes. Bote pra fora o seu estilo, sem se importar se aquilo que você está usando é tendência ou não. Faça tudo aquilo que te traga prazer, que te faça sentir bem consigo e com o mundo. Lute por aquilo que você quer e não desista no primeiro obstáculo. Olha, falando assim eu até me empolguei em algum dia querer “modelar” e fazer coisas que nunca fiz.

DICA DE FILME:

Nessa onde de falar sobre quebra de paradigmas, quero indicar um filme perfeito, que retrata exatamente o texto de hoje: Pequena Miss Sunshine.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=E0iHVXC4pEU&w=420&h=315]

Olive é uma menina fora dos padrões de beleza (sim, o mundo infantil também tem dessas), que quer participar de um concurso de beleza na Califórnia. A família toda vai junto numa Kombi amarela toda capenga. Ninguém na família está dentro dos padrões de “normalidade” impostos pelas revistas de hoje.

Normal? Quem aqui é?

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Beijocas.

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