Um dia.

O texto de hoje vai além de uma dica de filme. Na verdade, eu me baseei no enredo de um filme (chamado “Um Dia”, que foi baseado no livro homônimo de David Nicholls) pra construir uma reflexão em forma de texto. E, pra ser bem sincera, essa é uma reflexão de cinco minutos, típica de alguém como eu, que fica divagando enquanto cozinha e come em pé escorada na pia. Eu vou contar uma história sob o meu ponto de vista e você tenta imaginar, ok? Pode ser que você tenha passado por uma situação assim ou tenha tido uma história bem parecida na sua vida. Talvez eu esteja certa, talvez eu esteja completamente enganada sobre a minha reflexão. Afinal de contas, ela surgiu agora mesmo, ali na cozinha da minha casa. Mas se eu estiver errada, por favor, me avisa.

O filme é sobre Emma e Dexter, que parecem perfeitos um pro outro, mas que são completamente diferentes. Possuem vidas, personalidades e comportamentos que ninguém diria que geraria bons frutos. É óbvio que todo mundo fica antecipando o final, com aquela certeza de que eles vão ficar juntos porque é assim que acontece em todo filme de comédia-dramática-romântica-que-faz-a-gente-chorar-e-pensar-na-vida. Os dias quinze de julho (que foi o dia em que eles se conheceram), desde 1988 até o presente, são retratados no filme, estejam os dois protagonistas vivendo o mesmo momento ou outras coisas totalmente distintas. Eles são melhores amigos, ou melhor, eles construíram uma amizade que foi se fortalecendo, mas que surgiu do nada, depois de uma festa de formatura. Olha, gente, eu vou precisar contar a história – com spoilers – pra ilustrar minha reflexão. Não precisa deixar de ler este texto pra poder olhar o filme antes. Vale a pena assistir, mesmo sabendo o final. Eu assisti “A Culpa é das Estrelas” mesmo quando uma aluna minha entregou o ápice da história no meio da aula. Bom, mas se for o caso, vai lá e assiste o filme e depois volta aqui pra ler e pensar junto comigo.

Como eu ia dizendo, aquele romance é tão antecipado, tão esperado que parece que a gente, aqui de fora, fica colocando uma pressão pra ele acontecer de uma vez. Na verdade ninguém entende porque eles não ficam juntos, porque tá na cara que eles se entendem, que eles se gostam, até os dois percebem isso. Mas calma aí, toda a história, por mais óbvia que seja, precisa de um certo drama.

Ela quer ser escritora, ele é apresentador/produtor de TV, mas vamos apenas resumir com a palavra “famoso”, que o próprio personagem usa pra se definir, embora finja não gostar dessa denominação. As coisas são mais difíceis para Emma no início da vida adulta. Ela quer escrever, mas vai trilhando por outros caminhos, como trabalhar de garçonete em um restaurante mexicano e ser professora ao invés de ir direto ao ponto na carreira dela. Começa a namorar um cara que ela conheceu no trabalho, mas que não faz ela feliz. Parece (parece nada, é óbvio que sim) que ela tem medo de ir atrás do que ela realmente quer, apesar de ter talento. Já para Dexter, as coisas são mais fáceis, e como são! Ser “famoso” dá a ele algumas regalias e ele acredita que a vida dele é aquela bolha da TV. Ele está tão inserido naquele mundo artificial que até a garota que ele começa a namorar é também do meio, o que gera a insatisfação do pai dele, que se decepciona ao conhecer tamanha futilidade em um corpo que não tinha nada além de sedosos e longos cabelos loiros.

Bom, depois de enaltecer a garota e esculachar o coitado, você deve estar pensando que cada um devia seguir sua vida porque eles não têm nada a ver. Isso acontece. Resumindo, alguns quinze de julho se passam, eles se encontram várias vezes, mas parece que cada vez é diferente. Vai além dos inúmeros cortes de cabelo que a gente vê para ilustrar a passagem do tempo. Eles realmente estão cada vez mais diferentes do que quando se conheceram. Ele casa com uma garota bem de vida (e loira, para manter o padrão das outras namoradas) e ela vai morar em Paris, pois já se tornou a escritora que queria ser. Mas eles não conseguem ficar separados. Quando Dexter está recém divorciado, vai visitar Emma em Paris com a convicção de que dessa vez eles vão ficar juntos.

Eis que ela conta que está namorando um francês e Dexter fica com a cara no chão. Pensa em voltar para casa no dia seguinte. Ele não esperava por essa. Mas afinal, ele achava que ela iria esperar por ele desde 1988? Pois bem, como todo mundo imaginava, inclusive vocês que eu sei, Emma vai atrás de Dexter, dá uma chance pra ele e faz ele prometer que nunca vai magoar ela. Bom, até aí é história de filme.

A verdade é que todos criamos expectativas. Quem assiste o filme, quem tá lendo este texto, todo mundo quer saber o que vai acontecer no final. Todo mundo quer que aconteça aquilo que havia imaginado. Mas as coisas não são bem assim porque estamos em constante mudança. É que nem você se apaixonar pelo seu melhor amigo ou sua melhor amiga da época da escola. Claro que, às vezes, um se apaixona e o outro mantém a amizade. Definir o rumo dessa história está na trilha bifurcada onde um precisa decidir se continua correndo atrás ou desiste, e o outro precisa decidir se dá uma chance de uma vez ou se continua fingindo que não sabe de nada.

No meio disso tudo: a maldita expectativa. Independente do resultado dos caminhos seguidos na bifurcação, as chances de frustração são altas. Muitas pessoas ficam imaginando como seria tal coisa, viver tal situação, ficar com tal pessoa. Aí, chega na hora, não é nada demais e a pessoa percebe que sonhou acordada um tempão, e inutilmente. Do outro lado, a outra pessoa fica naquela história de “se não der uma chance, posso me arrepender de não ter tentado” (porque pode ser que funcione), mas também fica naquela de pensar que talvez não esteja de acordo com a maldita expectativa do outro, aí fica se cobrando, se punindo, porque não quer decepcionar a pessoa.

Sabe o resultado disso, né? No filme, a Emma morre atropelada, às vésperas de encontrar Dexter (sim, eles ficaram juntos) em um café. Não tiveram filhos, não sobrou nada pra contar história. Comparando com a vida real, eu acho que a expectativa em excesso mata a gente por dentro. Tentar suprir as expectativas de outra pessoa também. As duas pessoas passam a viver inseguras, não querendo magoar e nem ser magoadas. Então, para você que fica criando expectativas demais sobre as coisas, eu digo: PARE. Pare de perder o seu tempo.

Se você realmente quer alguma coisa na sua vida, vá atrás dela de uma vez, mesmo que para isso você não siga em linha reta, mesmo que você precise trilhar por outros caminhos até chegar no destino final. Mas no momento em que você fica imaginando como as coisas poderiam ser se você tivesse tomado uma atitude, a chance passa por entre os seus dedos e você deixa de viver o momento. Ou acaba vivendo esse momento bem mais tarde, o que gera aquela outra coisinha chata, chamada frustração.

Não dá pra voltar no tempo, não dá pra remendar as decisões que você tomou no passado. O que é possível agora é olhar para os lados e ver o que você consegue fazer neste mesmo momento em que você lê esta frase. E mais uma vez, não crie expectativas em excesso. Isso é querer adivinhar o futuro com uma bola de cristal em um quarto escuro e com os olhos vendados. Entre de cabeça nas suas decisões como se você não tivesse nada a perder. O que vai acontecer, você só vai descobrir quando chegar lá.