Diversas vezes durante a nossa vida a gente se depara com situações em que a gente não sabe o que fazer a respeito. A gente vê alguma coisa acontecer e fica naquela dúvida se deve se meter na história ou deixar quieto. Muitas vezes as pessoas pensam “Isso aí nem é comigo. Deixa, os envolvidos que se resolvam um dia.” e preferem fingir que nem viram nada. Normalmente, situações como essa certamente representam coisas ruins. Vou dar alguns exemplos e você anota aí num papel quantas dessas situações você já vivenciou ou participou como um mero espectador, ok? Vamos lá:
1. Seu melhor amigo ou amiga está namorando alguém há algum tempo. Todo mundo na turma tinha certeza absoluta de que os dois iriam se casar no futuro. Tinham planos para o futuro juntos, juntavam dinheiro para adquirir coisas juntos. Em um dia qualquer, você presencia uma cena nada agradável: o amor da vida do seu melhor amigo ou amiga estava saindo com outra pessoa às escondidas.
2. A segunda situação é bem semelhante à primeira. Só que ao invés de presenciar uma traição, o namorado ou namorada em questão está é dando em cima de você! Ninguém além de você sabe, já que a pessoa cuidou meticulosamente para não deixar rastros.
3. Seu primo ou prima com quem você cresceu junto está usando drogas. E, por saber que essa pessoa não tem uma cabeça muito forte, é bem provável que vá se meter com algo mais pesado daqui a algum tempo incerto.
4. Você vê alguém no seu trabalho fazendo alguma falcatrua pra se beneficiar em detrimento do trabalho de um outro colega. Seja assumindo os louros de um projeto que outra pessoa fez ou até fazendo coisas para atrasar/atrapalhar o andamento das tarefas de um colega. Isso não afeta o seu trabalho, mas de outra pessoa sim.
5. A sua vizinha tem alguns comportamentos agressivos, principalmente em relação a um filho, que é uma criança de mais ou menos oito anos de idade. A criança está sempre chorando e, algumas vezes, ela responde na mesma proporção de agressão com a própria mãe: gritando, atirando coisas na parede, derrubando alguns móveis.
6. Você trabalha no setor administrativo de uma empresa. Você vê, inúmeras vezes, o seu chefe imediato desviando dinheiro da conta. A quantia é pouca e ninguém percebe, mas esse desvio é recorrente e muito freqüente. Ele ganha um ótimo salário e não precisaria, de forma alguma, de uma fonte extra de renda.
7. Seu vizinho tem agredido a esposa de forma verbal, física e psicológica. Ela não tem familiares que a visitam e também não sai de casa. Sofre ameaças do marido e, por isso, nunca tocou no assunto das agressões com ninguém.
E então? Quantas dessas situações são ou já foram comuns para você ou alguém próximo? Duas ou três? Todas? E mesmo que a sua resposta seja “uma só”, a pergunta que lhe faço, para cada caso, é:
1 e 2. Você contaria para o seu melhor amigo ou amiga?
3. Você falaria com o seu primo a respeito? Você contaria para a sua tia?
4. Você tentaria ajudar o seu colega prejudicado? Você falaria alguma coisa para o seu colega falcatrua?
5. Você conversaria com a sua vizinha? Você chamaria o Conselho Tutelar?
6. Você contaria para alguém superior a vocês dois?
7. Você entregaria o seu vizinho para a delegacia da mulher?
Acho melhor reformular as perguntas para VOCÊ CONTOU? VOCÊ AJUDOU? Na maioria das vezes em que imaginamos situações assim, nos pegamos pensando sobre o que faríamos. E quando alguma das situações acima citadas acontecem de verdade, nos encontramos completamente sem reação, não é? Pensamos coisas como “Mas aquele casal de amigos sempre pareceu tão feliz, não quero ser a pessoa responsável pelo fim do relacionamento” ou “Isso aí não tem nada a ver comigo. O filho é dela, então eles que se entendam!”. Mas será que esse é o melhor caminho a ser seguido?
Vou contar uma história real para vocês, extraída do livro “O ponto da virada – Como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença (em inglês: The tipping point)”, do brilhante escritor Malcolm Gladwell.
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Mesmo os menores, mais sutis e inesperados fatores podem afetar a nossa maneira de agir. Um dos incidentes mais hediondos da história de Nova York, por exemplo, foi o assassinato de Kitty Genovese, morta a facadas, em 1964, no Queens. Em meia hora, ela foi perseguida pelo agressor e atacada três vezes na rua enquanto 38 vizinhos assistiam à cena de suas janelas. Nesse período, no entanto, nenhuma dessas 38 pessoas telefonou para a polícia. O caso provocou ondas de auto-recriminação. Tornou-se um símbolo da frieza e da desumanidade da vida urbana.
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A verdade a respeito de Genovese, porém, é um pouco mais complicada — e interessante. Dois psicólogos da cidade de Nova York — Bibb Latane, da Universidade de Columbia, e John Darley, da Universidade de Nova York — realizaram em seguida uma série de estudos para tentar compreender algo que eles chamaram de “problema do espectador”. Para isso, encenaram vários tipos de situações de emergência para ver quem apareceria para ajudar. O que eles descobriram, com surpresa, foi que o principal fator que influenciava a disposição de prestar auxílio era o número de testemunhas presentes.
Em uma experiência, por exemplo, Latane e Darley fizeram um aluno, sozinho numa sala, encenar um ataque epilético. Se houvesse apenas uma pessoa na sala vizinha ouvindo, ela corria para ajudar o aluno em 85% das vezes. Contudo, se ela achasse que havia outras quatro também ouvindo o ataque, sairia para acudir o estudante apenas 31% das vezes.
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Portanto, no caso de Kitty Genovese, argumentam psicólogos sociais, como Latane e Darley, o mais importante a observar não é o fato de ninguém ter telefonado para a polícia apesar de 38 pessoas terem escutado seus gritos, e sim, o fato de que ninguém ligou PORQUE 38 pessoas a escutaram gritar. Ironicamente, se ela tivesse sido agredida numa rua deserta com apenas uma testemunha, talvez ainda estivesse viva.
A chave para conseguir mudar o comportamento das pessoas, isto é, fazer com que elas se preocupem com um vizinho que está necessitando de socorro, às vezes está em detalhes mínimos de sua situação imediata. O Poder do Contexto diz que os seres humanos são muito mais sensíveis ao seu ambiente do que pode parecer.
Trinta e oito pessoas. Todas foram testemunhas de um assassinato brutal mas ficaram paralisadas na hora de ajudar. Provavelmente imaginaram que algum vizinho já havia ligado para a polícia. Da mesma forma, você pensa que sua amiga vai descobrir sobre as traições do namorado de alguma forma ou de outra. Ou até que alguém já deve ter contado e ela que não quis fazer nada. Presumimos mil e uma coisas para podermos permanecer na inércia. Buscamos justificativas onde elas não existem e simplesmente pensamos que isso não é problema nosso.
Acontece que no momento em que você vê algo de errado acontecer e não faz nada, você se torna cúmplice do acontecimento. Aí o seu primo se envolve com drogas pesadas, com tráfico e acaba morto. Então você pensa que, em algum momento, você teve o poder de ajudar e não o fez. Aí você se culpa e fica imaginando o que teria acontecido se tivesse feito algo para ajudar. Por que, ao invés de ficar imaginando que a sua amiga é feliz com o namorado traíra, você não pensa que tudo o que ela mais precisa agora, nesse momento, é alguém que dê apoio a ela, independentemente da decisão que ela tomar? Por que você não pensa que ela merece alguém que a valorize, que a respeite e que, tudo pode depender de um gesto de amizade da sua parte?
Antes que você diga, mais uma vez, que isso não te diz respeito, sugiro que você se faça a seguinte pergunta: “E SE FOSSE COMIGO?” E se fosse o seu filho usando drogas? E se fosse o seu namorado te traindo? E se fosse a sua mãe sofrendo violência doméstica? O ato de nos colocarmos no lugar dos outros se chama EMPATIA. Acredito que a empatia, juntamente com o respeito, seja o maior dos preceitos básicos de uma boa convivência em grupo. Tente se colocar no lugar dos outros. Nos momentos ruins e bons. Tente perceber que estas pessoas podem estar precisando da sua ajuda e tudo o que você precisa fazer é estender a mão. Não lhe digo para fazer isso com o constante pensamento de que você só está fazendo isso para não se arrepender depois, caso algo de ruim aconteça. Tente, de verdade, se imaginar na situação que as outras estão passando. Neste texto, eu nem estou citando os animais e o porquê de eu ter me tornado vegetariana (mas acho que já dá pra entender, né?). Eu estou falando apenas de pessoas convivendo juntas. Com o tempo você vai perceber que estender a mão com o coração aberto é o que de melhor um ser humano pode fazer por outro.
E aí? O que você faria? Deixe sua resposta nos comentários!
Beijocas, Dani.