A imaginação nos presenteia todos os dias. Graças a ela, temos contato obras literárias incríveis, que nos transportam para lugares nunca antes imaginados. Através das palavras, a imaginação nos faz entrar em buracos ao pé de árvores, nos faz caminhar de madrugada em uma rua escura com paralelepípedos umedecidos pela neblina. Enchemos os olhos com a paleta de cores de alguns filmes, parecendo que foi extraída de um cesto de frutas frescas num fim de tarde de verão. Quando o filme acaba, queremos aplicar aquele filtro de cores, de forma imaginária, no mundo real. A imaginação nos faz flutuar em pensamentos, anula nosso peso e nos dá a sensação de que somos uma folha seca desgovernada naquelas ventanias que antecipam uma chuvarada.
Comparando o título deste texto com a descrição que você acabou de ler, você deve achar que eu estou ficando louca, mas não. Enquanto ainda me resta um pingo de lucidez, eu vou escrevendo antes que eu perca o fio da meada. A imaginação é uma ardilosa pregadora de peças. As mentes criativas, onde “a própria” constrói seu reinado, são suas maiores vítimas. A imaginação, além de enfeitar nossa vida com mais arabescos que um próprio azulejo português, ela nos faz antecipar acontecimentos. Essa “queridinha” nos faz imaginar o que uma pessoa vai nos responder muito antes de formularmos a pergunta. Aí ela invade nossa cabeça com uma réplica, uma tréplica e o veredicto final. A hora do banho é o momento daqueles diálogos intermináveis de uma pessoa só, afogando no vapor todos os não-participantes da conversa. A cabeça deita no travesseiro fervilhando, como se materializasse um formigueiro que acabou de levar um esbarrão de um pé descuidado.
Essa antecipação ocasionada pela imaginação não traz nada além de uma angústia e de uma aceleração no peito conforme o momento em questão se aproxima. Dá pra ver o coração batendo, escondido sob a blusa, tamanha é a influência que a tinhosa exerce. Antes mesmo daquele fôlego tomado para dizer “olá”, você já responde com um grande e valente “vá catar coquinho!” (substitua aqui com a frase de sua preferência). Ninguém entende nada, o diálogo daquele dia no banho passa como um filme em sua cabeça e, inconscientemente, enganosamente, você acha que vai acontecer tudo como a sua imaginação previu. Você se arma até os dentes. O cenho mais franzido que a casca de uma árvore velha. O olhar pontiagudo como uma lança recém forjada em história de filme medieval. Lábios cerrados. Respiração longa, porém insuficiente. Seus pulmões são maiores do que seu próprio corpo agora.
E a pergunta a se fazer agora é: PRA QUÊ?. De que adianta viver um momento de tensão duas vezes? Ou será que a palavra “tensão” entra inutilmente na questão, já que foi algo que você mesmo criou? Enquanto você vive duas vezes o futuro por antecipação, você deixa de viver o presente. A musculatura de seus ombros estão duras como pedra, carregando um peso imaginário. Tensão constante, quem quer viver assim?
Essas pessoas que não sabem direcionar sua própria imaginação para algo positivo acabam se tornando gatos arredios. Pra não falar jaguatiricas. Por sentirem medo de um possível ataque, acabam dando o primeiro arranhão. Imaginação mal canalizada vem acompanhada de agressividade. Isso é bem típico daquelas pessoas que se fecham em cascas (para saber mais, clique AQUI), só para não precisar conviver normalmente com o resto do mundo.
Enquanto todos os professores dizem “dêem asas à sua imaginação” aos seus alunos, principalmente nos momentos que antecipam alguma tarefa que exige criatividade, eu lhes digo, queridas pessoas vítimas desta bisca que inunda todo e qualquer cérebro: CORTEM AS ASAS DA IMAGINAÇÃO, isso sim. Vivam um dia de cada vez e permitam-se sentir as emoções que preenchem cada momento sem tentar antever os acontecimentos do futuro.
Não digo que você não deva fazer planos. Todo mundo faz planos, eu também (e muitos)! E colocar metas e desafios no nosso próprio destino é importante para que a gente tenha algum incentivo pra buscar coisas novas na nossa vida. O que precisamos fazer (ou pelo menos tentar) é parar de querer brincar com “bola de cristal”. Na maioria das vezes, as pessoas não reagem como a gente imaginava que iriam. Falam coisas totalmente fora daquilo que a gente “ensaiou” embaixo do chuveiro. E daí, no fim de tudo, a gente fica pensando que perdeu um tempão arquitetando conversas, saídas e argumentos. Pra nada. A coisa nem era tudo isso como a gente imaginou.
A imaginação pode ser a nossa melhor amiga, a nossa aliada e até o nosso instrumento de trabalho. Viver sem imaginar também é bem sem graça. Alimente a sua imaginação, pratique o uso dela, seja escrevendo, desenhando ou interpretando a arte de outra pessoa. E cuide bem da sua imaginação, porque ela é meio sem noção às vezes. Então, o nosso maior desafio é ensiná-la a não se meter onde ela não é chamada. Exercício constante.